domingo, 31 de janeiro de 2021

A transmigração das almas

  "Por ocasião de sua 5ª. raça raiz, demasiado parecida com a nossa, existiu a abominável civilização do "Kali Yuga" ou Idade de Ferro, tal como nestes momentos temos aqui na terra. Eu, que era apenas um pobre animal intelectual condenado à pena de viver, vinha de mal a pior, reincorporando−me, incessantemente, em organismo masculino e feminino, segundo o débito e o haver com o Karma. Confesso que inutilmente a minha Mãe Natureza trabalhava, criando−me corpos, mas eu sempre os destruía com meus vícios e paixões. Qual um maldição insuportável, cada uma de minhas existências se repetia dentro da linha espiralóide, em curvas cada vez mais baixas. Obviamente, havia−me precipitado pelo caminho involutivo e decadente. Revolvia−me como um porco no lodo abjeto de todos os vícios, e nem remotamente me interessavam os assuntos espirituais. É inquestionável que me havia tornado um cínico não redimido e qualquer tipo de castigo, por mais grave que fosse, estava condenado ao fracasso. Dizem que 108 contas tem o colar de Budha e isto nos indica o número de vidas que corresponde a toda Alma. Devo dar certo ênfase ao dizer que a última dessas 108 existências foi, para mim, algo definitivo. Ingressei no reino mineral submerso. A última dessas personalidades foi do sexo feminino e, depois de revolver−me no leito de Procusto, serviu−me de passaporte para o inferno.

Dentro do ventre mineral daquele mundo blasfemava, maldizia, feria, insultava, fornicava espantosamente e me degenerava mais e mais, sem nunca dar mostras de arrependimento. Sentia−me caindo na remota distância do passado. A forma humana me desagradava. Preferia assumir dentro desse abismos figura de bestas. Depois, parecia que era planta, sombra que deslizava aqui, ali e acolá. Por último, senti que me fossilizava. Transformar−me em pedra? Que horror!... Contudo, já estava tão degenerado que nem isto me importava. Ver, qual leproso da cidade dos mortos viventes, cair dedos, orelhas, nariz, braços e pernas, certamente não é nada agradável. Porém, nem isto me comovia. Fornicava incessantemente no leito de Procusto com quantas larvas se aproximassem e sentia que me extinguia como uma vela de cera. A vida dentro das entranhas minerais de tal planeta era−me demasiadamente aborrecedor. Por isso, como que pretendendo matar o tempo, tão longo e tedioso, revolvia−me como um porco entre a imundície. Debilitava−me espantosamente todo feito em pedaços e morria penosamente. Desintegrava−me com uma lentidão horrível. Nem sequer tinha mais forças para pensar − melhor assim. Finalmente chegou a Morte Segunda, da qual fala o apocalipse de São João. Exalei o derradeiro alento e a Essência logo ficou livre. Vi−me transformado num formoso menino. Certos Devas, depois de me examinarem detidamente, permitiram−me entrar pelas portas atômicas que conduzem alguém de regresso à superfície planetária, à luz do sol. É claro que o Ego, o Mim Mesmo, o Eu havia morrido. Minha alma livre assumia agora a bela forma de um terno infante. Que felicidade, meu Deus! Quão grande é a misericórdia de Deus! A essência liberada do Ego é intimamente inocente e pura. O Eu transformou−se dentro das entranhas daquele mundo em poeira cósmica. Quanto tempo vivi nos mundos infernos? Não sei.

Possivelmente uns 8 a 10 mil anos. Agora, desprovido do Ego, retornei à senda de tipo evolutivo. Ingressei no reino dos gnomos ou pigmeus, seres que trabalham com o limo da terra, elementais inocentes do mineral. Mais tarde, ingressei nos paraísos elementais do reino vegetal, reincorporando−me constantemente em plantas, árvores e flores. Quão feliz sentia−me nos tempos do Éden, recebendo ensinamentos aos pés dos Devas. A felicidade dos paraísos Jinas é inconcebível para o raciocínio humano. Cada família nesses edens tem seus templos e seus instrutores. Alguém pode encher−se de êxtase ao entrar no santuário das laranjas, ou na capela da família elemental da boa erva da menta, ou na igreja dos eucaliptos. Tratando−se de processos evolutivos devemos fazer o seguinte enunciado: natura non facit saltus (a natureza não dá saltos). É evidente que os estados mais avançados do reino vegetal permitiram−me passar para o estado animal. Comecei reincorporando−me em organismos muito simples. Depois de ter possuído milhões de corpos, terminei por retornar em organismos cada vez mais complexos. Como nota sobressalente destes parágrafos, devo dizer que ainda conservo recordações muito interessantes de uma dessas tantas existências, às margens de um formoso rio de águas cantantes, que alegres se precipitavam em seu leito de rochas milenares. Era, então, uma humilde criatura, uma espécie muito particular do gênero dos batráquios. Movia−me dando saltos daqui para lá e de lá para cá, entre as árvores. Evidentemente tinha plena consciência de mim mesmo. Sabia que outrora havia pertencido ao perigoso reino dos animais intelectuais. Meus melhores amigos eram os elementais desses vegetais que tinham suas raízes às margens do rio. Com eles conversava na linguagem universal. Morava deliciosamente na sombra, muito longe de todos os humanoides racionais. Quando pressentia algum perigo refugiava−me, de imediato, entre as águas cristalinas. Muitas vezes continuei retornando em diferentes organismos, antes que tivesse a felicidade de reincorporar−me numa espécie de anfíbios muito inteligentes, que alegres saíam das procelosas águas do rio para receber os raios solares na arenosa praia. Quando chegou o terrível momento que faz tremer de medo a todos os mortais dei o último adeus aos três reinos inferiores e regressei num organismo humanoide. Assim, reconquistei, trabalhosamente, o estado de animal racional que outrora perdera.

Neste meu novo estado de bípede tricerebrado ou tricentrado, rememorava, evocava insólitos acontecimentos abismais e nem remotamente desejava voltar ao mundo soterrado. Ansiava aproveitar, com sabedoria, o novo ciclo de 108 existências que agora me era novamente concedido para minha autorrealização íntima. A experiência passada havia deixado dolorosas cicatrizes no fundo de minha alma e de modo algum estava disposto a repetir os processos involutivos dos mundos infernos. Bem sabia que a roda do Samsara gira incessantemente em forma evolutiva e involutiva, e que as Essências, depois de sua passagem pelo reino animal intelectual, descem milhares de vezes ao horroroso precipício, para eliminar os elementos subjetivos das percepções. contudo, de nenhuma maneira ansiava mais sofrimentos abismais. Por tal razão estava bem disposto a aproveitar meu novo ciclo de existências racionais. Por essa época, a civilização do referido planeta havia chegado ao seu ápice. Os habitantes daquele mundo tinham naves marítimas e aéreas, gigantescas cidades ultra modernas, poderosas indústrias e comércio, e todos os tipos de universidades, etc. Lamentavelmente essa ordem de coisas não se combinavam com as inquietudes do espírito. Numa dessas minhas novas existências humanoides, com a Consciência inquieta, como que sentindo um estranho terror, resolvi inquirir, indagar, buscar o caminho secreto.

Diz um provérbio da sabedoria antiga: "quando o discípulo está preparado o mestre aparece". O guru, o guia apareceu para tirar−me das trevas para a luz. Ele me ensinou os mistérios da vida e da morte, indicando−me a senda do "fio da navalha". Assim adveio o Mistério do Áureo Florescer. Eu compreendia a fundo minha própria situação. Sabia que era tão somente um pobre homúnculo racional, mas ansiava transformar−me em homem verdadeiro e é óbvio que consegui naquele grande dia cósmico, naquele antepassado sideral, muito antes do Mahamvantara de Padma ou Lótus de Ouro. (...)

 Concluirei o presente capítulo dizendo que só trabalhando na Frágua Acesa de Vulcano logrei transformar−me em homem autêntico."



Samael Aun Weor, O Mistério do Áureo Florescer

In: https://www.escoladaluz.com.br/uploads/books/2015-05-11-5551149a4ea7f.pdf

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