quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

O empoderamento feminino e a escolha da espiritualidade

As imagens femininas nas mais diversas religiões foram diminuídas, humilhadas, mortas, expulsas, cometeram erros imperdoáveis ou atos de traição, foram violadas, raptadas, etc... As deusas e personagens mitológicas, quando dignas de respeito, são representadas como submissas, castas, mães dedicadas, portadoras de um amor incondicional e auto-sacrificante, sendo praticamente assexuadas. Na verdade, ao estudarmos a mitologia mais a fundo, veremos que as deusas eram todas muito poderosas e veneradas em um passado mais remoto.

Na mentalidade daquele que detém o poder, conquistar servos que verdadeiramente creiam em sua superioridade faz parte das táticas de guerra e dominação. No período do Império Romano foi ditada uma ordem de extermínio a todos aqueles que cultuassem outras divindades que não as suas, e por isso os druidas, sacerdotes celtas, foram largamente cassados e assassinados e suas divindades "romanizadas". Nesse acontecimento histórico relativamente recente em aspectos mitológicos, podemos observar parte do processo de aculturação forçada, tática já utilizada inúmeras outras vezes.
Apenas exemplificando como as pessoas tiveram que, forçadamente, renunciar ao Sagrado Feminino,  vou citar como se deu a mudança da visão da deusa Hécate, conhecida na mitologia grega de hoje como padroeira das parteiras e das encruzilhadas:
Hécate

Hécate é uma das mais antigas deusas tríplices, tendo derivado da deusa parteira egípcia Heket, "aquela que ajuda a parir o Sol". De acordo com Barbara Walker, o nome dessa deusa deriva de "Heq", nome dado à matriarca tribal do Egito pré-dinástico, aquela que é a mulher sábia.
Na crença pré-olímpica, Hécate é uma das divindades trinas que rege os céus, a terra e o submundo. Os helenos deram ênfase ao seu aspecto de anciã, como aquela que rege a magia, a divinação e que protegia os viajantes. 
No início da Idade Média passou a ser conhecida como Rainha das Bruxas. Foi diabolizada pelas autoridades católicas, para quem as pessoas mais perigosas que poderiam ser suas adoradoras seriam as parteiras. 
À partir da evolução mitológica que assistimos em relação a essa divindade, podemos verificar que houve um processo de diminuição de seu poder no decorrer da história: de parteira do Sol, divindade máxima no Egito pré-dinástico, passou a ser demonizada na Alta Idade Média.
Hécate, aquela escolhida pelas parteiras para proteger e guia-las durante o parto, passou a ser cassada. Mais tarde, com o advento da Inquisição, as mulheres que a cultuassem seriam julgadas e mortas.
As mulheres, que antes podiam adorar deuses do sexo feminino, a partir de então deveriam adorar apenas a divindade imposta pelo Patriarcado, o Deus bíblico, que criou Adão à sua imagem e semelhança.  Não apenas mulheres, mas também homens que adorassem outra divindade (acusados de heresia) seriam julgados de acordo com o Malleus Malleficarum, uma espécie guia dos inquisidores. O que mais marcou durante a história da Inquisição foi o número de heréticos do sexo feminino. Havia uma verdadeira cultura de ódio contra as mulheres propagada pela Santa Madre Igreja. Mulheres eram acusadas de heresia de acordo com seu modo de cozinhar, de coser as roupas, se apresentavam um comportamento sexual fora do estipulado eram acusadas de ter pactuado com o Diabo, se conheciam as ervas para curar eram acusadas de feitiçaria, muitas que tinham algum tipo de doença mental eram acusadas de ser possuídas pelo Diabo.
Todos os conhecimentos que eram do domínio das mulheres foram invadidos e minuciosamente controlados, sendo sua espiritualidade, sua personalidade ou sua relação íntima com a natureza. 
A mulher teve seu contato com o Sagrado Feminino roubado, e à partir daí teve que adorar a um Deus que não poderia compreender suas experiências. É realmente muito difícil para uma mulher que deseja apoio espiritual espelhar-se em uma divindade que não a empodere, que a demoniza e que não a represente. As mulheres precisam de referências que mostrem a elas seu potencial, daí a importância da conscientização do Sagrado Feminino.
Mulheres que não aprendem sobre seu poder espiritual vivem uma vida isenta dele, já que têm como referência apenas figuras masculinas. Passam a ser não sujeitos de mudança, mas sim objetos, ou então passam suas vidas sendo movidas pelas circunstâncias.
Diversas estatuetas de vênus
As estatuetas de vênus, que no passado representavam a sacralidade feminina, renasceram do útero telúrico, frio e úmido da Terra, foram trazidas de volta pela Arqueologia, e com elas as mulheres passaram a ter com o tempo e com muitas conquistas o direito de escolher uma representação divina que as complete, que compreenda suas experiências como o parto, a menstruação, a sexualidade, o relacionamento com o sexo masculino, o relacionamento íntimo com a Terra, seus ciclos, o relacionar-se com seu corpo, etc.

In: https://osveussobrealua.blogspot.com/2014/03/o-empoderamento-feminino-e-escolha-da.html

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