"A intuição é o tesouro da psique da mulher. Ela é como um
instrumento de adivinhação, como um cristal através do qual se pode ver com uma
visão interior excepcional. Ela é como uma velha sábia que está sempre com
você, que lhe diz exatamente qual é o problema, que lhe diz exatamente se você
deve virar à esquerda ou à direita. Ela é uma forma de velha La Que Sabe,
Daquela Que Sabe, da Mulher Selvagem.
(…)
A intuição é transmitida de pai para filho da forma mais
simples. “Você tem um bom raciocínio. O que você acha que está por trás disso
tudo?” Em vez de definir a intuição como alguma peculiaridade irracional e
censurável, ela é definida como a fala da verdadeira voz da alma. A intuição
prevê a direção mais benéfica a seguir. Ela se autopreserva, capta os motivos e
intenções subjacentes e opta pelo que irá provocar o mínimo de fragmentação na
psique.
(… )
Como o lobo, a intuição tem garras que abrem as coisas e as
sujeitam; ela tem olhos que enxergam através dos escudos da persona; ela tem
ouvidos que ouvem sons fora da capacidade de audição do ser humano. Com essas
espantosas ferramentas psíquicas, a mulher assume uma consciência animal astuta
e até mesmo premonitória, que aprofunda sua feminilidade e aguça sua capacidade
de se movimentar com confiança no mundo exterior.
(…)
O rompimento do vínculo entre a mulher e sua intuição
selvagem é muitas vezes encarado erroneamente como se a própria intuição é que
estivesse destruída. Não é o que ocorre. Não foi a intuição que se partiu, mas,
sim, a bênção matrilinear da intuição, a transmissão da confiança intuitiva de
todas as mulheres de uma linhagem, que já se foram, para aquela mulher
específica — é esse longo rio de antepassadas que foi represado. A compreensão
da mulher da sua sabedoria intuitiva pode ser fraca em conseqüência do
rompimento, mas com exercício ela poderá se restaurar e se manifestar em sua
plenitude.
(…)
Se a psique instintiva disser “Cuidado!”, a mulher deve
prestar atenção. Se a intuição profunda disser “Faça isso, faça aquilo, vá por
esse lado, pare aqui, siga em frente”, a mulher deverá corrigir seus planos
conforme seja necessário. A intuição não é para ser consultada uma vez e depois
esquecida. Ela não é descartável. Ela deve ser consultada a cada passo do
caminho, quer o trabalho da mulher seja o de
enfrentar um demônio interior, quer seja o de completar alguma tarefa no
mundo externo."
In: "Mulheres que correm com os Lobos", Clarissa Pinkola Estes