" Diz a lenda que Jesus Cristo apareceu diante de Afonso Henriques, no dia 15 de julho de 1139, prometendo-lhe a vitória contra os mouros, assim como um reino, dizendo “[…] quero em ti e teus Descendentes fundar para Mim um Império, por cujo meio seja meu Nome anunciado entre as Nações mais estranhas […] e será Reino para Mim santificado, puro por Fé, e amado por Piedade. […] Não se apartará deles (a Gente Portuguesa), nem de ti, a minha misericórdia, porque por sua via tenho aparelhadas grandes searas…” Essa lenda, como tantas outras, foi sofrendo transformações ao longo do tempo conforme as conveniências políticas de cada momento.
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Essa aparição teria ficado devidamente comprovada e documentada através da “Carta da Fundação de Portugal” redigida em Coimbra em 29 de outubro de 1152 e ratificada pelo próprio D. Afonso com uma dezena de testemunhos. Carta essa historicamente falsa, mas que em nada diminuiu o mito.
A esse propósito já Pascoaes dizia que o importante é que “a lenda se formou, o que para nós tem mais valor do que a realidade histórica daquela aparição”.
Opinião reforçada por Pessanha que dizia que a tradição possui uma “verdade intuitiva” que é superior a todas as investigações históricas. Mas, mesmo assim e quanto a estas, não vamos deixar de lembrar aqui que D. Afonso Henriques era descendente de uma família nobre francesa e que seu primo, com quem se correspondia regularmente, não era outro senão o fundador da Ordem dos Templários, aqueles mesmos que, segundo a lenda, eram encarregados de defender e proteger o Santo Graal, cuja revelação ao mundo veio por acaso (que nas coisas divinas não os há), a ser intimamente ligada ao surgir do Tempo do Espírito Santo.
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É maravilhoso ver, como um século antes do Padre Vieira transmitir sua visão do Quinto Império, na qual tentava unir a visão original de Camões, a visão dos Tempos de Fiore e a lenda do sebastianismo, entre outros mais conceitos muito próprios de Vieira, tenha surgido um sempre inominado, porém implícito, Quinto Império na obra de Camões. Para ele, esse Quinto Império do Amor Pleno é o destino último de Portugal, o qual surgirá no mundo, tal qual como para Joaquim de Fiore, como um terceiro tempo, depois do domínio pagão e do eclesiástico. O Quinto Império do Amor representa um regresso à origem, em Deus, para além de Deus.
Partilho com Camões e alguns dos mais iluminados e esclarecidos profetas que anunciaram os tempos vindouros que a verdadeira vocação imperial de Portugal, do seu destino e do seu futuro, é uma vocação amorosa que pretende servir o sagrado feminino.
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Poderíamos perguntar de onde afinal, antes de se expandir para o mundo, surgirá esse Amor que o há de regenerar pelo “fogo imortal” do desejo unitivo de que Jesus nos fala no Lógion 10 do Evangelho de Tomé (EvT) quando nos diz “Lancei um fogo sobre o mundo e, reparai, vou conservá-lo até que se alumie.”? Vieira responderia que isso se daria no Brasil, mais especificamente no Maranhão. Quanto a Camões, sem o saber, numa certa forma, veio a concordar antes de tempo com Vieira, pois situou esse acontecimento numa mítica “Ilha dos Amores”, o que nos permite fazer a associação à Ilha do Amor, o nome pelo qual é conhecida e cantada em verso e prosa a Ilha de São Luís, capital do Maranhão, no Brasil.
É, portanto, perfeitamente possível fazer essa associação e supor que, a primeira manifestação no mundo desse Amor até então desconhecido da humanidade, o Amor Divino Manifesto no Ser, surgirá na Ilha do Amor. Essa mesma ilha que tem um nome de santo e rei: São Luís, cujo símbolo real nada mais é do que a flor de Lis de três pétalas unidas, um elemento simbólico que o leitor recordará, junto com tantos mais, quando, nesta obra, se deparar com a interpretação messiânica dos ditos de Jesus relatados nos Lógia 22 e 23 do EvT.
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A semente desse mito, com o adubo inigualável de Camões em “Os Lusíadas”, onde foi o verdadeiro instigador do conceito do “Quinto Império”, além do terreno fértil deixado pelo pensamento de Fiore sobre as três Idades na história e no desenvolvimento do mundo, encontrou no Padre Antônio Vieira o mentor perfeito para estabelecer um paralelismo entre a história sagrada e a história de Portugal, através de uma sutil ligação simbólica entre a figura mítica do Rei Encoberto (D. Sebastião) e a figura de Cristo, pois ambos morreram no cumprimento da sua missão e de ambos se espera o regresso.
O povo português, num sentido amplo da língua e da cultura, seria, sob este prisma, no tempo presente, o povo escolhido e preferido entre as demais nações da terra, chamado a cumprir a profecia de Jesus para o Tempo do Filho do homem, o Tempo do Espírito Santo, que os profetas intitularam também de Tempo do Quinto Império e do qual Pessoa dizia, em 1923, na Revista Portuguesa: “O Quinto Império, o futuro de Portugal, que não calculo, mas sei-está escrito já, para quem saiba lê-lo, nas trovas do Bandarra e também nas quadras do Nostradamus”.
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Ardizone Spinola, no seu sermão pronunciado em 1641 na Índia, ao mencionar o “milagre” da fundação de Portugal realçava o destino imperial e messiânico do povo português de modo semelhante ao do povo hebreu no Antigo Testamento. Essa escolha, que não poderia ser feita pelo Cristo sem o consentimento do Pai, nos recorda que não seria a primeira vez que, simbolicamente, Deus repudiaria a Israel [Jr 3, 8].
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O povo português, no seu sentido amplo de Império, em que inclui muito particularmente o povo brasileiro, é destinado, caso se entregue a esse “Chamado” intemporal, a resgatar almas, livrando-as do cativeiro da ilusão da separação, despertando-as do sonho do Ser, para a realidade Una, do Sou.
Ele deverá ser mediador de uma mensagem de Jesus, destinada a todos os homens e mulheres do mundo, para que renasçam na experiência do Amor pleno, unindo corpo, coração e alma para o Amor Divino, Incondicional, Infinito e Absoluto, o qual, ao se manifestar no ser é já a chave do regresso ao Reino dos Céus e condição para que o mundo se revele ou se torne o Império do Amor que os profetas dos tempos do fim anunciaram.
Permita-me aqui fazer uma analogia com um fato narrado na Bíblia vivido por Madalena que, após a morte de Cristo o buscava, o procurava, mas não sabia onde estava, embora estivesse à sua frente, encoberto, para a visão (consciência) de Madalena, até que ele próprio se manifestasse a ela chamando-a pelo seu nome. Esse fato poderá se dar quando, nos nossos dias surgir, no segundo Paracleto (interno), o mesmo Yeshua (primeiro Paracleto), chamando por uma outra “Myriam” (Maria trina: mãe, irmã e companheira), na qual surgirá a mesma Myriam (interna).
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Nesse sentido, quando um português (de alma – no seu sentido de Império), passa a procurar-se dentro de si próprio e regressa a si mesmo por entre as brumas do caminho que o leva à plenitude espiritual da sua alma, ele é sempre um Dom Sebastião que retorna para realizar o sonho do Quinto Império, o regresso de Jesus no Tempo do Espírito Santo, regresso esse de que até o Alcorão fala, assim como as demais tradições espirituais e religiosas que contêm esse arquétipo simbólico do regresso ou da vinda de um “esperado” ligado ao fim dos tempos.
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No seu “Sermão da Epifania”, pregado na Capela Real no ano de 1662, Vieira afirma que a nova terra e o novo céu que Deus irá criar – objeto da profecia no Antigo Testamento “Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão” [Is 65, 17], retomada por João na sua visão do Apocalipse, não era uma outra terra, senão esta, nem um outro céu senão este, no entanto, tanto um como outro passariam a ser diferentes porque a consciência do homem seria diferente “porque a terra ficará cheia do conhecimento de Iahweh, como as águas recobrem o mar” [Is, 11, 9].
Ironicamente ele deixava entender, para quem percebesse, que essa nova consciência, a consciência da Verdade, surgiria da terra onde “não há verdade”, cujo nome começa com o M da mentira, onde até o sol mente: o Maranhão. E, de lá a Verdade seria desvelada através de uma mudança de paradigma, descobrindo-se assim um Novo Mundo, oculto e ignorado: um Mundo de Amor dentro do mesmo mundo.
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Para Vieira, nem o passado devia ser fonte de saudade nem o futuro de desejo. Com Vieira descobrimos na sua plenitude o sentido da palavra “saudade” para a alma portuguesa: saudade do futuro (que já aconteceu). Pois, Deus, sendo tudo, contém nele o tempo e o espaço. Como tal, para Deus o tempo não é um decorrer, mas um eterno agora onde todos os lugares são em parte alguma e todos os tempos em tempo nenhum. Assim, o não agir do homem dentro do seu livre-arbítrio, não pode nunca ter, para Deus, por consequência, a não realização do plano Divino, mas tão só, para o homem, o retardar da consecução desse plano.
Por isso, concordo com Vieira e faço minhas as palavras de Fernando Pessoa em “Mensagem” quando diz: “É A HORA!”.
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SOHAM Jñana
Trechos de textos extraídos dos livros: “Da Era do Filho à Era do Espírito Santo“ e “O tempo daquele que volta”.
Em: https://www.facebook.com/SohamJnana/posts/as-profecias-do-quinto-imp%C3%A9rio-e-a-liga%C3%A7%C3%A3o-espiritual-messi%C3%A2nica-entre-portugal-/629921690453449/